segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Para ex-porta voz do governo israelense, Palestina terá vitória diplomática na ONU

Andréia Martins
Do UOL Notícias
Em São Paulo
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O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, protocolou na sexta passada (dia 23) um pedido formal de adesão da Palestina como membro pleno na ONU. O Conselho de Segurança anunciou que o estudará a partir de hoje (26), mas sua votação pode demorar semanas. Mesmo que o conselho aprove a inclusão, os Estados Unidos, que têm poder de veto, já anunciaram que vetarão a mudança. Para Miri Eisin, analista e ex-porta voz do governo israelense, o atual cenário indica uma vitória diplomática aos palestinos - que, para ela, é uma "vitória vazia".

“Acredito que Abbas vai receber a maior parte dos votos das Nações Unidas e, assim, obter uma clara vitória diplomática. No entanto, as implicações imediatas para a retomada das negociações é deixar a Palestina de fora [da ONU]. Sinto que esta é uma vitória vazia que não os aproxima do Estado, em vez disso, os empurra para mais longe”, disse Eisin em entrevista ao UOL Notícias.
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Foto 17 de 18 - BENJAMIN NETANYAHU - Setembro de 2011 - Trecho do primeiro-ministro de Israel durante a 66ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York Mais AP Photo/Richard Drew/Arte Uol
Para Eisin , o sucesso das negociações depende da “vontade" dos dois países "de irem adiante e não apenas repetir posturas que todos já conhecemos”. “É preciso conversar e não desistir logo na primeira desavença ou discordância – e ambos precisam se comprometer”. Ela também destaca o papel fundamental de cada um dos líderes. “As pessoas precisam de lideranças com uma visão de futuro para os dois lados.”

Durante os discursos da semana na 66ª Assembleia Geral da ONU, a maioria dos países manifestou sua opinião sobre a questão. Brasil e Argentina, por exemplo, defenderam a entrada da Palestina na ONU, frente è negativa do presidente americano Barack Obama e a sugestão de aceitar a Palestina como “membro observador”, sugestão do francês Nicolas Sarkozy. Abbas e o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, reforçaram cada um seu ponto de vista.

“Não ouvi nada diferente dos líderes. O líder palestino apresentou os palestinos como vítimas em busca do reconhecimento do seu Estado durante 63 anos. Já o premiê de Israel defendeu a questão da segurança, o que vem influenciando os Estados Unidos por mais de seis décadas. A questão agora é como construir uma ponte entre esses dois pontos de vista e chegar a uma resolução. Espero que eles possam negociar sem repetir o passado”, afirma Eisin.

Já conscientes do veto dos Estados Unidos ao pedido, os palestinos tentam pressionar os demais países para tentar reverter um cenário que, mesmo com apenas um veto, inviabiliza a proposta de Abbas. Após submeter a candidatura ao secretário-geral da ONU, é preciso que 9 dos 15 países do Conselho de Segurança aprovem o pedido. Até agora, seis países já anunciaram o apoio ao plano de Abbas (veja, abaixo, a tabela com a posição dos países). Segundo o negociador Nabil Shaatg, do Fatah, partido de Abbas, os países terão duas semanas para discutir a questão.

Para Eisin, a indefinição do Conselho de Segurança – mesmo se tiver maioria dos votos e for vetada pelos americanos, a Palestina não terá direito a integrar a ONU – é prejudicial para ambos os países. “A discussão vai continuar assim como aconteceu ao longo desses anos – sem beneficiar um país ou outro ou aproximá-los. Assim, vai apenas adiar a chance de uma negociação bilateral”.

Caso seja aceito, o pedido de reconhecimento será submetido à nova votação apenas pelos membros permanentes da entidade -- Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido. É nesta etapa que os EUA podem barrar a iniciativa palestina. Como todos os membros permanentes do CS têm poder de veto, com apenas um voto contra dos EUA, o pedido é negado. China e Rússia são a favor. Reino Unido e França não anunciaram posição.

Se for aceito nessas duas votações pelo Conselho de Segurança, o pedido palestino ainda deverá passar à votação geral por parte dos 193 países integrantes da Assembleia Geral da ONU, e ser aprovado por dois terços deles -- o que seria praticamente certo. Se for rejeitado no CS, segue para votação na Assembleia Geral, mas para que os palestinos obtenham o título de Estado observador, e não membro.

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Eisin é ex-porta voz do primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, que na sexta-feira (23) - dia em que o pedido de Abbas foi apresentado na ONU -, em um artigo para o "The New York Times', defendeu uma solução rápida para questão, apoiando a saída que cria dois Estados como "única forma de garantir um Oriente Médio mais estável e conceder a Israel a segurança e o bem-estar que o país deseja".

Olmert, no artigo, afirmou que a atual oportunidade para um acordo "não se manterá aberta indefinidamente". "Não é sempre que Israel se verá diante de líderes palestinos como Abbas e o primeiro-ministro Salam Fayyad, que se opõem ao terrorismo e desejam a paz. De fato, os futuros líderes palestinos podem abandonar a ideia de dois Estados e buscar uma solução de Estado único, tornando impossível a reconciliação. A hora é agora. Não haverá momento mais favorável".
Posição dos países membros do CS sobre o reconhecimento da Palestina

Estados Unidos* contra
Líbano a favor

Reino Unido* indeciso
Colômbia abstenção

Rússia* a favor
Portugal indeciso

China* a favor
Nigéria indeciso

França* indeciso
Bósnia-
Herzegóvina indeciso

Brasil a favor
Gabão indeciso

África do Sul a favor
Alemanha contra

Índia a favor
• *Membros permanentes do Conselho de Segurança, com poder de veto

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