terça-feira, 27 de setembro de 2011

"A Autoridade Palestina colocou Israel em apuros"

Internacional

Eduardo Febbro
Sex, 23 de Setembro de 2011 10:02
Meir Magalit - Foto: Eduardo Febbro

Restam muito poucos. É preciso buscá-los com insistência, mas eles estão ali, presentes, solidários, fiéis a si mesmos, dignos, ativos, militantes, apoiados no humanismo que sustenta sua tradição política e comprometidos com a ação: são os homens e mulheres que representam a esquerda israelense, aqueles que, em um momento em que a esquerda de Israel era tragada no redemoinho eleitoral, ganharam um mandato nas urnas. Meir Margalit é um deles. Legislador da Municipalidade de Jerusalém, secretário geral do movimento israelense contra a demolição de casas (palestinas), ICAHD, Margalit é um pacifista em um país armado, cuja calma e determinação força muros inacessíveis.
Historiador e homem político, nesta entrevista à Carta Maior, Margalit assegura que o presidente da Autoridade Palestina pôs Israel em apuros e destaca as contradições nas quais está mergulhada a sociedade israelense, reconhecendo a crise pela qual passa a esquerda de seu país.
Como você analisa o pedido de reconhecimento do Estado palestino que Mahmud Abbas formaliza ante a ONU. É um erro estratégico, um gesto desesperado ou apenas um mero gesto simbólico que não acrescenta nada?
Não, não, de modo algum é um fracasso de Abbas. Muito antes de o pedido de Mahmud Abbas chegar às Nações Unidas, os palestinos já tinham vencido. E ganharam porque é a primeira vez, desde muito tempo, que eles dão o rumo geopolítico da agenda e da região. É também a primeira vez que conseguem pôr Israel em apuros. Faz muito tempo que Israel não conhece uma situação semelhante. Os palestinos encurralaram Israel, obrigaram-no a explicar ao mundo por que se negam a reconhecer um país.
Os palestinos colocaram Israel em uma situação grotesca. Eu creio que, desde essa perspectiva, os palestinos ganharam. Israel está se desgastando progressivamente. Apesar do veto dos Estados Unidos ao reconhecimento do Estado palestino, quando há mais de 130 países que votam a favor da Palestina isso equivale a uma mensagem muito clara dirigida a Israel.
Está se dizendo ao país: senhores, se vocês seguirem esse caminho, deixarão de fazer parte da grande família de países civilizados. Trata-se, então, de um grande êxito dos palestinos. É preciso mirar o impossível para obter algo possível. O que hoje parece impossível será possível cedo ou tarde. Mahmud Abbas teve muita coragem. Dizer não aos EUA como fez Abbas é um ato de saúde mental. Não conheço muitos líderes no mundo que sejam capazes de dizer aos Estados Unidos: "lamento amigo, mas não estou de acordo com o que vocês fazem". Estou convencido de uma coisa: se Israel seguir neste caminho vai colapsar. Não sei se em 20 ou 30 anos, mas esse caminho nos leva a um precipício. Se alguém não nos detiver, e digo alguém porque nós não temos nem a motivação nem o incentivo para parar, terminaremos nos destroçando em um precipício.
Quem parece ter cometido um erro estratégico é o primeiro ministro Benjamin Netanyahu. Ao invés de aceitar a possibilidade de um Estado Palestino e acompanhar a decisão impondo condições básicas para Israel, o Executivo se fechou na ameaça e na cegueira.
Por ser um estúpido, Netanyahu caiu na armadilha. Mas essa é a estupidez típica de todos os nacionalistas. Quando, em algum momento, o nacionalismo assume o controle, perde-se um pouco a sensatez. Netanyahu e o governo israelense a perderam. Sob a influência de grupos extremamente direitistas, Netanyahu errou o cálculo: em vez de fazer um cálculo nacional, fez um cálculo eleitoral.
A sociedade israelense parece ter um olhar duplo que, por curioso que pareça, revela uma mudança: por um lado tem medo de que Israel perca iniciativa e legitimidade, e, por outro, observa os fenômenos que se produzem com uma posição menos intransigente que antes.
É certo que existem mudanças substanciais na sociedade israelense. A mais fundamental é que hoje, no discurso nacional, estão se dizendo coisas que, há dez anos, não se podiam dizer. Por exemplo, há uma década a postura israelense consistia em dizer: não se devolvem territórios. Hoje, em troca, a questão mudou para converter-se em uma pergunta: que porcentagem de territórios é preciso devolver? Esta pergunta é muito transcendente e se a observamos sob um olhar de longo prazo vemos em seguida que se produziu uma mudança substancial. Se antes as pessoas se negavam a contemplar a possibilidade de devolver territórios, hoje compreende que é preciso devolver esses territórios e a discussão se concentra em saber em que porcentagem. Aqui, porém, ocorrem coisas contraditórias.
Por um lado, a sociedade israelense está disposta a considerar a possibilidade de terminar com a ocupação. As pessoas estão muito agoniadas com isso. Por outro lado, e isso é o paradoxal, segue votando nos partidos de direita enquanto que a extrema direita é cada vez mais forte e cada vez mais fundamentalista. Devo admitir que, aqui em Israel, os processos não são pretos ou brancos, há situações paradoxais, contraditórias. Estamos, então, diante de processos que apontam para direções distintas. É importante destacar uma coisa: nunca a esquerda israelense esteve tão mal no Parlamento e, no entanto, nota-se que o discurso nacional aceita ou repete o que a esquerda vem dizendo há muitos anos. E o que diz a esquerda israelense? Diz que é preciso acabar com a ocupação. Hoje, a maioria das pessoas, incluindo o primeiro ministro Benjamin Netanyahu, diz que essa ocupação terá que acabar em algum momento. Encontramos então outro paradoxo: a esquerda nunca esteve pior e também nunca esteve melhor.
Por acaso o surgimento dessa frente interna que nasceu com os jovens israelenses, os indignados, pode modificar o peso da balança política ou esse foi somente um fenômeno passageiro?
Creio que isso será absolutamente insignificante, não transcendental e em nada mudará o panorama político porque as eleições são dentro de dois anos e a memória do israelense médio é demasiado curta. Essas pessoas foram demasiadamente pacíficas para que o governo as levasse a sério. Aqui não houve piqueteros e não se queimou sequer um pneu ao longo de dois meses. Diante de manifestações dessa índole, fica muito fácil para o governo manipulá-las e deixá-las passar. Rapidamente ocorre algum arranjo cosmético, mas em regra geral não vejo que os indignados deixem uma marca na sociedade israelense.
Como se pode explicar o abismo no qual caiu a esquerda israelense? Ela praticamente despareceu como ator político, carece de credibilidade e de capacidade de mobilização, é uma voz ausente no jogo político nacional. Desapareceu como discurso, como peso político, como mensagem e como sentido.
Se falamos do trabalhismo isso é certo. Mais do que uma mudança, o trabalhismo sofreu uma degeneração, Hoje sabemos que o trabalhismo nunca foi de esquerda, usavam slogans esquerdistas, mas levavam na prática uma política capitalista e nacionalista. Não se pode ser socialista e também tão sionista como é o trabalhismo. Que resta então da esquerda aqui? Em última instância, sobramos nós, o Meretz. Meu pequeno partido tem hoje três membros no Parlamento, que conta com 120 acentos.
Estamos no limite de desaparecer porque fomos leais a nossas consignas. Era muito mais fácil tomar um caminho mais direitista e nacionalista e, dessa forma, ganhar alguns votos mais. Nós fomos consequentes e pagamos o preço. A partir do ano 2000 este país foi para a direita. Ficou mais de direita, mais fundamentalista, mais religioso. A presença de um personagem tétrico como o ministro de Relações Exteriores, Lieberman, me diz que nos convertemos em um país fascista. Essa é a melhor prova de que Israel se degradou muito. Por quê? Alguns dirão que é uma reação lógica aos atentados palestinos doa anos 2000, outros dirão que isso tem a ver com complexos que vem da época do Holocausto, outros dirão que persistem questões que estão nas próprias raízes do movimento sionista. Seja como for, está claro que a esquerda israelense está em crise.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
Fonte: Carta Maior

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Nações Unidas, 23 set. (PL) O presidente da Autoridad Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abas, criticou Israel, hoje, por sua responsabilidade nos sucessivos fracassos das negociações de paz e, não obstante, exortou a reconstruir as pontes do diálogo.Expectativa mundial com pedido palestino de ingresso na ONU

Nações Unidas, 23 set. (Prensa Latina) - O mundo inteiro concentra hoje sua atenção sobre as Nações Unidas devido à anunciada apresentação de uma solicitação de reconhecimento do novo Estado Palestino para seu rendimento como membro da organização mundial.
O acontecimento deve ocorrer pouco depois das 11h00 de Nova Iorque (15:00 UTC), para quando está fixado uma reunião entre o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abas, e o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon.
De acordo com o previsto, nesse encontro Abas entregará ao secretário geral da ONU uma carta que contém o pedido de admissão do Estado Palestino como integrante número 194 do organismo.
Segundo Ban Ki-moon, sua responsabilidade neste caso consiste em transferir a mensagem ao Conselho de Segurança, integrado por 15 membros, cinco deles permanentes e com direito de veto (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China).
Esse órgão deve analisar a carta e recomendar ou não o ingresso do solicitante à Assembleia Geral (193 países). A entrada definitiva requer dois terços dos votos do plenário.
De acordo com estimativas dos especialistas, a causa da ANP conta com o respaldo de mais de 120 países.
As decisões no Conselho de Segurança requerem de uma maioria de nove votos positivos e de nenhum contra de qualquer dos cinco permanentes (veto).
Mas os Estados Unidos já anunciou que vetará a aspiração palestina e exerce enormes pressões para evitar a apresentação do pedido de rendimento e forçar Abas a aceitar a retomada de negociações com Israel.
A ação norteamericana é secundada pela União Europeia, pelo governo Israelense e pelo secretário geral da ONU.
Além dos cinco membros permanentes, o Conselho de Segurança está formado hoje por Líbano, Colômbia, Nigéria, Gabão, Portugal, África do Sul, Bósnia e Herzegóvina, Brasil, Índia e Alemanha.
Em seu discurso perante a Assembleia Geral, o presidente estadunidense, Barack Obama, recusou na quarta-feira a ideia do ingresso do Estado Palestino na ONU e ratificou que o compromisso de seu país com a segurança de Israel é inquebrantável.
Para a mesma sessão matutina desta sexta-feira está anunciada a intervenção de Abbas perante o plenário da Assembleia Geral.

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Líder palestino denuncia perante a ONU política agressiva de Israel
Nações Unidas, 23 set. (Prensa Latina) - O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abas, criticou hoje Israel por sua responsabilidade nos sucessivos fracassos das negociações de paz e, não obstante, exortou sua contraparte a reconstruir as pontes de diálogo.
Ao iniciar seu discurso na 66 Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) e depois de entregar formalmente a solicitação oficial para ser um membro de pleno direito no organismo, Abas foi ovacionado de pé por parte das delegações diplomáticas presentes.
Podemos regressar de imediato à mesa de negociações sobre a base da legitimidade do Estado palestino, nossos esforços não estão dirigidos a isolar Israel, só queremos que seus assentamentos sejam considerados ilícitos, remarcou o dirigente.
Agregou que "em nome do povo palestino estendo a mão ao povo israelense em prol de conciliar a paz. (...) Até agora o fracasso das conversas é culpa da política colonialista de Israel e da ocupação militarizada de territórios palestinos", disse.
Abas destacou perante a Assembleia Geral da ONU que a política israelense de estabelecer colônias destruirá qualquer possibilidade de conseguir uma solução de dois Estados, para a qual há consenso internacional, apontou.
"A reivindicação e o direito de nosso povo à paz e à prosperidade é incontestável, desde há muito tempo deveria existir um Estado palestino, há uma primavera palestina que busca a independência. (...) A Palestina renasce, é minha mensagem", enfatizou o líder árabe.
Minutos antes de iniciar sua falação e diante das câmeras de televisão, Abas entregou ao secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, uma pasta com o escudo palestino que contém a carta de petição de soberania.
O presidente da ANP denunciou também uma política de limpeza étnica implementada por Israel, "tirando-nos de um território ancestral, a potência ocupante continua fazendo escavações em nossos lugares sagrados, acossando a cidade sagrada com assentamentos".
Tal ocupação - enfatizou - continua reduzindo nossas fronteiras, desafia e socava a possibilidade real de um Estado palestino e continua impondo uma guerra de agressões com a consequente destruição de escolas, hospitais e mesquitas.
As ações criminosas dos colonos intensificaram-se com ataques diretos contra nosso povo, contra terrenos agrícolas, e apesar de nossos alertas, as autoridades israelenses não retrocederam em seus propósitos ofensivos, reafirmou Abas.
Israel é responsável pelos fracassos contínuos para salvar o processo de paz, sua política ameaça quebrantar a estrutura da ANP e poderia transformar o conflito em nossa região em um conflito maior, denunciou o dirigente palestino.
Os Estados Unidos tentaram sem sucesso convencer Abas para que se abstivesse de apresentar seu pedido formal perante a ONU, pensando que este passo poderia acarretar uma eventual futura denúncia nos tribunais internacionais contra o forte aliado de Washington, Tel Aviv.
Meios internacionais noticiaram ao mesmo tempo que um palestino morreu e outros três ficaram feridos devido a disparos do exército israelense na Cisjordânia, depois de confrontos de rua em um ambiente de tensão pela intervenção de Abas.
Fontes policiais também informaram de choques na localidade de Beni Salha, Bilin e Naalin, e também no passo de Qalandia. Outros manifestantes se reuniram ao oeste de Ramala para protestar pela presença de forças militares israelenses.
Os soldados reprimiram os ativistas com gases lacrimogêneos e outros meios antidistúrbios sofisticados. Israel colocou 22 mil policiais ao longo da chamada Linha Verde -instituída pelo alto ao fogo de 1967- nas localidades israelenses de maioria árabe e em Jerusalém Leste.

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ONU: prossegue Assembleia Geral sob influência palestina
Nações Unidas, 24 set. (Prensa Latina) - Envolvida em uma trepidante atmosfera política depois da petição de rendimento do Estado Palestino na ONU, a Assembléia Geral avança hoje em sua quarta jornada de discursos de chefes de Estado, governo e chanceleres.
A realização de uma inusual jornada sabatina na sede da organização mundial obedece à longa lista de oradores inscritos para participarm no debate geral que durará até a próxima sexta-feira.
Por América Latina e as Caraíbas só subirão ao pódio do plenário quatro representantes caribenhos: San Vicente e Granadinas, Antiga e Barbuda, Barbados e Saint Kitts e Nevis, de acordo com a programação distribuída à imprensa.
A reunião, que conta com a assistência a mais de 120 governantes, foi sacudida na véspera com o pedido oficial fato pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abas, para que o Estado Palestino seja admitido como o membro número 194 da organização mundial.
A apresentação desse pedido levantou de seus assentos boa parte dos delegados participantes nos trabalhos da Assembleia, que emitiram prolongados aplausos de respaldo à causa palestina.
Essa ovação também mostrou a rejeição da grande maioria dos países às manobras que tratam de bloquear a aspiração dos palestinos, em particular Estados Unidos, Israel e alguns integrantes da União Europeia (UE).
Washington já anunciou que vetará a solicitação da ANP no Conselho de Segurança, órgão de 15 membros que deve analisar o caso e elaborar uma recomendação para a Assembleia Geral (193 assentos).
A demanda entregada por Abas ao secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, já foi transferida ao atual presidente do Conselho de Segurança, o embaixador do Líbano, Nawaf Salam.
O diplomata libanês anunciou que as consultas sobre a petição palestina começarão na próxima segunda-feira entre os integrantes do órgão encarregado da paz e da segurança internacionais.
Também ontem o chamado Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, Rússia, UE e ONU) emitiu uma declaração que quase omitiu o tema da petição feita pela ANP e pediu a retomada das negociações entre Israel e os palestinos.
Trata-se da mesma linha esgrimida por Washington para tratar de impedir que Abas fizesse seu pedido de adesão na ONU.
O Quarteto fixou o prazo de um mês para realizar reuniões preparatórias com o propósito de acrodar uma agenda e o modo de proceder nas eventuais conversas.
Assim mesmo, indicou que ambas as partes devem se comprometer com que o objetivo é "atingir um acordo dentro de um marco lembrado que não deve se estender para além do final de 2012".
Ao mesmo tempo, estabeleceu que Israel e os palestinos apresentem propostas nos próximos três meses em matéria de territórios e segurança e deu um semestre para que se produzam "progressos substanciais".

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