quarta-feira, 27 de julho de 2011

Até onde chegará a queda do dólar?

A valorização do real dificilmente arrefecerá no curto prazo: a taxa de câmbio caminhará para o nível de R$ 1,50 por dólar até setembro. É o que esperam analistas internacionais, que citam os fundamentos da economia brasileira, em particular a taxa de juros bem mais alta do que as outras economias mundiais, para que o País continue recebendo um grande fluxo de capital estrangeiro.Ontem a moeda norte-americana cravou R$ 1,53.

“O governo pode até tentar reduzir o ritmo de apreciação, mas não conseguirá reverter a tendência de um real mais forte”, disse à Agência Estado Win Thin, diretor de pesquisa para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman em Nova York.

Segundo ele, os números da conta corrente divulgados ontem ainda mostram que o Brasil está atraindo grande quantia de investimento direto e de portfólio (em ações de empresas negociadas em bolsa e títulos de renda fixa) por parte dos estrangeiros. Thin previu que o câmbio atingirá a marca psicológica de R$ 1,50 por dólar entre agosto e setembro.

À medida que o câmbio se aproxime do barreira de R$ 1,50, o estrategista da Brown Brothers Harriman acredita que o governo ficará mais nervoso e provavelmente adotará algumas medidas adicionais de controle cambial para conter a apreciação do real. “Haverá mais nervosismo e mais resistência à aproximação da marca de R$ 1,50”, disse Thin.

Para ele, o real está 7% sobrevalorizado com base no cálculo da paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês) utilizado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Na opinião do vice-presidente para mercados emergentes da MF Global, Michael Roche, baseado em Nova York, os juros elevados no Brasil tornam o País um destino mais atraente para o dinheiro dos investidores estrangeiros em busca de maior taxa de retorno.

“Comparado com outros países emergentes, como a Índia, cuja inflação está em torno de 9,44% e a taxa básica de juros foi elevada hoje para 8%, ou seja, juros negativos, o Brasil oferece uma relação de retorno e risco muito favorável”, disse Roche. Com a taxa Selic a 12,50% e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a 6,71%, no acumulado de 12 meses até junho, os juros reais no Brasil tornam-se praticamente “imbatíveis”, ao redor de 5,79%, afirmou o estrategista.

“Não há outro país, na visão dos investidores, que apresenta uma história tão positiva em termos de fundamentos econômicos como o Brasil, assim os investidores deverão continuar buscando os ativos brasileiros”, afirmou Roche. Ele previu que o câmbio atingirá o patamar de R$ 1,50 até o final de setembro. “Estou confiante que o câmbio vai se fortalecer ainda mais, ultrapassando a barreira de R$ 1,50 por dólar.
Guido Mantega está assustado

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a guerra cambial entre os países não vai “derrotar” o Brasil. Segundo ele, o governo vai intensificar a defesa comercial do país para evitar que o mercado nacional seja ocupado por produtos importados, mais baratos devido à desvalorização do dólar.

“Há práticas recrimináveis de concorrência, principalmente para quem tem mercado, que é o nosso caso. Estamos atentos para isso. Não vamos deixar a guerra cambial nos derrotar com desvalorizações artificiais das taxas de câmbio em outros países”, disse o ministro durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), em Brasília.

Guerra cambial - É a disputa entre países envolvendo a cotação de suas moedas, com a tomada de medidas para desvalorizar suas divisas. A origem da disputa pelo câmbio está na desvalorização contínua do dólar frente às moedas locais.

O dólar desvalorizado prejudica as exportações dos países. “Estaremos atuando na área de política cambial e estamos intensificando a defesa comercial do país de modo a não deixar que o nosso mercado de manufaturado seja ocupado por outros países muitas vezes usando subterfúgios”, completou.

Mantega criticou a prática de triangulação – quando um produto fabricado em um país passa por outro ao invés de ser exportado diretamente para Brasil. O ministro afirmou que parte do superávit comercial do EUA com o Brasil é resultado de triangulação.

“Países que estão sofrendo processos antidumping estão utilizando terceiros para exportar para o Brasil. Até os EUA estão sendo usados como país de triangulação. talvez por isso os EUA hoje estão com superávit comercial em relação ao Brasil”, disse o Mantega. Segundo ele, o governo brasileiro está “olhando com prioridade” para a prática de triangulações e vai “tomar medidas importantes neste campo.”

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