quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Florence aposta permanecer no ministério após reforma de Dilma



Bahia Notícias - Este ano, o senhor foi um dos ministros citados em denúncias pela imprensa nacional. Uma delas é de que haveria comercialização de lotes de projetos de assentamento, que eram destinados à agricultura familiar. Isso foi veiculado pela revista Veja. Como o senhor encarou essas denúncias? E as suas respostas foram consideradas satisfatórias dentro do governo Dilma?
Afonso Florence - Eu encaro as denúncias como noticiário que precisa de resposta dos gestores públicos. A venda e a retomada de lotes, infelizmente, é uma rotina na gestão dos assentamentos de reforma agrária. Os números são muito expressivos. Nos últimos oito anos, mais de 100 mil lotes retomados, de 900 mil. Nós apresentamos no Senado e na Câmara todos os documentos e evidências que comprovam o zelo pela boa gestão e isso foi reconhecido inclusive por parlamentares de oposição. Está gravado. O líder da oposição no Senado, senador Álvaro Dias, se pronunciou manifestando uma avaliação de que a resposta foi satisfatória. E esse é sempre o nosso propósito. Toda vez em que há oportunidade de esclarecermos como a gestão é feita, é da nossa obrigação e da nossa conveniência. Para preservar a política pública da reforma agrária e não contaminar com o erro de alguns – que devem responder pelos seus atos – uma política pública que é necessária para o país.
BN - Para a gente entender mais ou menos, como foi que o senhor explicou esse caso específico da comercialização de lotes?
AF - Nós apresentamos todas as providências tomadas antes do nosso mandato – nos oito anos do mandato do presidente Lula, com os ministros [Miguel] Rossetto e [Guilherme] Cassel – e também as providências tomadas já no ano de 2011 para retomar lotes. São sempre medidas judiciais tomadas por superintendentes do Incra. E, eventualmente, a responsabilização judicial das pessoas que assim procederam, seja vendendo ou comprando. Claro que o processo de retomada tramita na Justiça. Então, umas são mais rápidas. Outras, mais lentas. Mas nós apresentamos esse processo como um todo e o caso ficou suficientemente esclarecido na compreensão dos parlamentares que solicitaram as informações.

BN - O jornal O Globo também trouxe um caso, já aqui na Bahia, que foi o de uma ONG de Aldenes Meira, que seria cabo eleitoral do senhor, que teria sido favorecida em contratos com o Ministério do Desenvolvimento em R$ 3,7 milhões. O senhor também nega que tenha ocorrido isso? O que foi que aconteceu em relação a essa ONG do Aldenes Meira?
AF - Primeiro, é importante dizer que existe uma lei federal, uma lei de assistência técnica, que adequa os procedimentos de licitação e de dispensa de licitação, a Lei 8.666, para a contratação de empresas ou cooperativas para a prestação de serviços de assistência técnica. Nós fizemos a chamada pública, houve muitos concorrentes e procedemos com respeito à lei e com a transparência necessária, tanto que os órgãos de imprensa que tiveram acesso à informação tiveram através da publicação dos resultados pelo MDA. Não houve nenhum repasse. São contratos. Os recursos são repassados após a prestação dos serviços e averiguação do pleno cumprimento do contrato. Isso não tem nada a ver com o processo eleitoral. É óbvio e notório que sou parlamentar eleito licenciado. E de fato há muitas pessoas que apoiaram a minha candidatura a deputado federal tanto entre vencedores quanto entre empresas e cooperativas não-selecionadas. São circunstâncias legais totalmente distintas. O apoio dentro do processo democrático e das regras da lei no processo eleitoral que, para mim, ficou superado com o licenciamento do cargo de deputado federal. A chamada pública é feita na forma da lei. Assim como não há nenhum procedimento de beneficiamento de concorrentes, também não há de preterimento pelas escolhas eleitorais que foram feitas, seja de apoio a outros candidatos ou candidatos da base do governo. Isso ficou suficientemente esclarecido e, ato contínuo com o noticiário, logo em seguida não houve sequer nenhuma continuidade na divulgação desse fato. Tudo acompanhado, aliás, pela CGU e pelo TCU. Tudo na forma da lei, com transparência.
BN - A primeira informação que eu me recordo ter saído em que o senhor era alvo da imprensa nacional foi uma notinha curta na coluna Painel. Nela, o senhor e o também ministro Mário Negromonte seriam preteridos de discussões do governo porque não teriam o conhecimento técnico das pastas e não tinham um bom trânsito com a presidente Dilma Rousseff. Aqui na Bahia, inclusive, a gente se sentiu surpreso porque o senhor é um dos nomes dentro do PT que atuam sempre ao lado de lideranças de luta pela terra, do MST etc. O senhor também acredita, como foi citado por alguns políticos do PT, de que haveria um fogo amigo para tentar retirá-lo do ministério?
AF - São duas dinâmicas distintas. Uma é o noticiário na imprensa. Há muitos órgãos de comunicação, de diferentes mídias – TV, rádio, impresso, blogs – e há uma diversidade muito grande entre os órgãos de imprensa. Cada um deles se comporta de acordo com a sua própria tradição e orientação editorial. Alguns noticiaram dessa forma e reiteraram. Outros trataram de forma distinta. Houve órgãos de grande circulação nacional que disseram coisa distinta, que o ministério tem o reconhecimento da presidenta. E aí foi que afirmaram que era fogo amigo. Isso é normal. Faz parte da liberdade de expressão, que é uma das grandes conquistas da sociedade brasileira. E eu vejo como normal a diversidade de orientação editorial e de ênfase em notícias. Do ponto de vista da disputa política, o Ministério do Desenvolvimento Agrário é muito efetivo, no Brasil todo e na Bahia, com instrumentos de política pública muito acessados pelos agricultores familiares, pelas cooperativas, pelas prefeituras, pelos governos estaduais. Com um crédito agrícola muito atrativo. É natural na política, no regime democrático, que haja quem almeje essa posição. Mas o fato é que tenho a minha trajetória anterior, a minha história de ativista político – eu sou ativista político, eu não sou técnico em reforma agrária ou agricultura familiar. Eu sou um dirigente político. Assim como dirigi a Sedur e aceitei um convite do governador, porque me considerava em condições de cumprir a tarefa, aceitei o convite da presidenta para dirigir o MDA. Claro que eu me debruço sobre os temas e claro que eu só aceito o convite sabendo que, me debruçando, poderei corresponder. E o resultado desse ano, e a relação da presidenta, são opostas a essas afirmações. Tem sido regular a participação da presidenta em eventos do MDA, ela autorizou um conjunto de providências – muitas delas, inclusive, bastante ousadas e inovadoras com a Rede Brasil Rural – ela autorizou, determinou, o aprofundamento e aperfeiçoamento de políticas da agricultura familiar e da reforma agrária. O que comprova o oposto; comprova a estreita relação dela com o MDA e com a equipe do ministério, com o ministro. Então, tudo isso faz parte do jogo da democracia e da política. E eu estou bastante contemplado com os resultados do ano de 2011.

BN - Outra questão que foi levantada é a seguinte: o senhor faz parte de uma corrente do PT, que é a DS, Democracia Socialista, e teria sido indicado pelo cargo em uma vaga que seria do senador Walter Pinheiro. Ele teria repassado a indicação para o senhor. Haveria, inclusive, uma ciumeira da DS de outros estados. Isso ocorreu, ministro?
AF - Não, isso não ocorreu. A presidenta Dilma cogitou vários nomes para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, assim como fez com outros ministérios. Em uma interlocução direta com o governador Jaques Wagner e com os ex-ministros Rossetto e Cassel – mas principalmente depois da conversa com o governador – me fez o convite. E eu tenho tido uma relação com a bancada da base aliada – deputados e senadores do PMDB, do PSD e do PT – muito harmônica. O MDA cresceu muito a sua relação com os setores econômicos da agricultura familiar e com a base parlamentar. A cada dia que passa, a cada semestre, a cada safra, se consolida a imagem pública da força econômica, social e política da agricultura familiar. Portanto, se houve em algum momento, seja na base aliada ou no interior do PT, expectativa de que outros nomes ocupassem o ministério, rapidamente isso veio se diluindo. Não vejo essa circunstância como decorrente de um debate interno do PT, entre correntes. As correntes têm uma presença muito interna ao PT. Fora do PT, é notório que nós, petistas, somos muito petistas e temos uma unidade muito grande. É claro que, quando os debates programáticos ocorrem, as correntes debatem. É para isso que elas existem. Como em todos os partidos, há grupos internos. Tanto nos partidos da base aliada quanto nos partidos da oposição. A imprensa também cobre os debates internos de cada partido. É claro que nos primeiros meses de um novo mandato há sempre essa, digamos assim, efervescência positiva, que é a expectativa de participar de um ministério. Mas isso rapidamente cedeu terreno, na relação interna do governo, para a agenda de gestão. O Plano Safra, o Brasil Sem Miséria, A Rede Brasil Rural. E a execução das políticas públicas da agricultura familiar.
BN - E ciumeira de outros estados do Sul e Sudeste? A imprensa nacional chegou a falar em "baianistério". O senhor se sente alvo de um preconceito por ser nordestino dentro do governo?
AF - Eu não me sinto alvo de preconceito. O que é muito perceptível é que, como o MDA coloca à disposição vultosos recursos – são R$ 16 bilhões só no crédito para a agricultura familiar. Para a Bahia, são R$ 900 milhões, R$ 500 milhões para investimento e R$ 400 milhões para custeio. E a Bahia é o estado com o maior número de agricultores familiares, o maior número de acampados e acampadas, o maior número de assentados e assentadas. Então, a Bahia é o estado que, naturalmente, aportará mais recursos. É claro, é compreensível, é natural que os estados queiram se ver representados. Nós vamos tratar todos os estados de acordo com o tamanho da sua demanda. Há estados onde a demanda está localizada por ali preponderar a atividade da agricultura familiar mais dinâmica. Há estados onde a preponderância é da agricultura familiar na faixa da extrema-pobreza. A aplicação dos recursos é sempre mais ou menos proporciona, obviamente, à capacidade de contratação dos estados, das prefeituras e das entidades de organização econômica, associações e cooperativas. É natural que as regiões e os estados pretendam contribuir com o governo federal à frente do ministério. Mas, enquanto eu estiver à frente do ministério, por orientação da presidenta, o tratamento será equânime. A Bahia vai ter aquilo que merece ter. E merece estar liderando os investimentos por ser a de maior envergadura quantitativa e, muitas vezes, em alguns segmentos, econômica da agricultura familiar.

BN - Então não houve, como chegou a ser denunciado, um favorecimento ao estado, tal qual Geddel Vieira Lima quando era ministro da Integração Nacional, que foi acusado de beneficiar sobretudo as prefeituras do PMDB aqui na Bahia?
AF - Não. Essa também foi uma outra acusação feita por setores da imprensa contra o MDA, mas que não considerou o fato de que o Orçamento de 2011 foi aprovado em 2010. Então, quando o Orçamento foi aprovado, não estava a presidenta nem eu como ministro. Na verdade, esse é o fato. A Bahia tem uma presença demográfica e econômica da agricultura familiar muito expressiva. Naturalmente, ela deverá ter uma assistência muito forte do MDA. E é óbvio que eu, como ministro, por dever e ofício, mas também como baiano, vou zelar para que isso de fato aconteça. E acho que é para o bem da Bahia toda. Vai beneficiar prefeituras da base aliada de Dilma e Wagner assim como prefeituras de oposição. Eu posso provar isso. Durante a gestão do MDA, estados governados por governadores de oposição têm tido o mesmo tratamento de estados governador por governadores da base. Cito explicitamente o estado de Alagoas, o estado do Pará. Governadores que nos procuram reiteradamente, pleiteando apoio do MDA para as políticas da agricultura familiar e que logram êxito. A nossa responsabilidade vai ser sempre cumprida, que é contribuir para que os estados e os municípios possam executar as políticas de apoio à produção, de assistência técnica, de agroindustrialização e de comercialização dos produtos da agricultura familiar. Indistintamente. O nosso compromisso é com a produção de alimentos e é um compromisso nacional porque aproximadamente 70% dos alimentos que vão para a mesa dos brasileiros são produzidos pela agricultura familiar. Então, independe de quem é o prefeito, prefeita, governador ou governadora. O importante é produzir alimento, até para garantir segurança alimentar e nutricional e conter a inflação. É um projeto nacional já consolidado hoje, conhecido, inconteste. Os dados de importância expressiva da agricultura familiar são decorrentes do Censo Agrícola do IBGE. E isso nos dá tranquilidade para tratar equanimemente...claro, tratar os diferentes de acordo com suas características expressivas. Essa acusação não vai encontrar respaldo.
BN - O Brasil Sem Miséria, que é um dos grandes programas da presidente Dilma Rousseff, tem ações no MDA e, segundo matéria que saiu no Estado de Minas, de duas semanas atrás, com dados da CGU, apenas R$ 1 milhão foi aplicado de um convênio com o Ministério do Meio Ambiente, o que representa 0,5% dos R$ 205,6 milhões previstos para serem executados este ano. O que aconteceu com o programa Brasil Sem Miséria dentro da pasta do MDA?
AF - Dentro da pasta do MDA, nós extrapolamos as metas. Nós temos uma meta para os quatro anos de 253 mil famílias. Para o ano de 2011, a meta original era 27 mil famílias. De acordo com o calendário agrícola, nós fizemos chamadas públicas, contratamos empresas e cooperativas primeiramente de Minas e Bahia, posteriormente todos os outros estados do Nordeste. Firmamos os contratos, treinamos as equipes, já iniciamos a distribuição de sementes e já cadastramos as primeiras duas mil pessoas que vão receber o fomento, que é um dinheiro do governo federal não reembolsável, que é para aplicação na produção. Identificamos as famílias mais pobres, os territórios do Nordeste e Minas. Como eu disse, Minas e Bahia foram o primeiro lote. Primeiramente, o território de Serra Geral, em Minas Gerais, e Velho Chico e Irecê, na Bahia. As famílias recebem o extensionista, que elabora um plano de estruturação produtiva da unidade produtiva rural. E ali é prevista a aplicação do fomento. A família recebe, pelo cartão do Bolsa Família, três parcelas de R$ 800, ou seja, R$ 2,4 mil. Esse recurso tem que ser aplicado na produção: e melhoria do galinheiro, a compra de um arado para plantio...E essa família recebe também sementes de feijão, milho, hortaliças. E recebe um apoio para preparar a documentação para vender a sua produção ou na prefeitura, para utilização na merenda escolar, pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar, o Pnae – que estabelece, por lei, o mínimo de 30% de compra da agricultura familiar pela prefeitura. Ou para venda no PAA, o Programa de Aquisição de Alimentos –, que, com recursos do MDA e do MDE, a Conab adquire alimentos e faz a distribuição direta no programa Fome Zero. No caso do MDA, o programa está rigorosamente dentro do calendário Nós já distribuímos 257 toneladas de sementes nos territórios de Velho Chico e Irecê, na Bahia. São 10 mil famílias cadastradas nestes três territórios: Velho Chico, Irecê e Serra Geral. Na Bahia, são 8,4 mil. E estamos iniciando no Nordeste também. Eu não sei qual foi a fonte do jornal de Minas, mas tenho a impressão que ele está se referindo ao Bolsa Verde, que o MDA ajudou a fazer o cadastramento. O nome popular é Bolsa Verde, mas é o Programa de Apoio à Conservação Ambiental. O nome seria Paca. Esse programa prevê o pagamento de uma bolsa trimestral de R$ 300. E o que é que ocorre? É necessário identificar – e o MDA ajuda nisso – o que a gente chama de assentamentos diferenciados. Em unidades de conservação e reservas extrativistas, há ativo ambiental, como floresta, manguezal, que merece ser preservado. E que a comunidade já preserva. Tem que ser feito um diagnóstico in loco. O programa foi lançado no final de maio, início de junho, e entrou, na prática, quando os contratos começaram a ser assinados, em setembro, outubro. As empresas tiveram que ir in loco fazer o registro do ativo ambiental. Gradativamente, na medida em que o cadastro era feito, era divulgado. Provavelmente, foi identificado um balanço parcial do pagamento do Bolsa Verde. Com o fechamento do Orçamento, muito provavelmente o número terá sido bastante ampliado. A impressão que eu tenho é que, se a meta não for cumprida, não terá sido cumprida por detalhe. E logo no início de 2012 nós vamos cumprir e superar as metas do Brasil Sem Miséria, como já está acontecendo no âmbito do MDA.

BN - O senhor é um ativista desta parte de mobilização da terra. Tem um dado que aponta que apenas 6 mil famílias foram assentadas em 2011 e que os latifúndios improdutivos, no mesmo período, somam mais de 130 milhões de hectares. Como é que o senhor percebe essa reforma agrária, que teria sido aquém da expectativa dos movimentos de luta pela terra?
AF - Os movimentos fazem sua parte, têm autonomia, tradição de luta. Nós todos respeitamos as suas posições. Entretanto, 2011 é o ano em que certamente fecharemos com um balanço positivo. Só para identificar, o orçamento de 2011 era de R$ 530 milhões. Todo mundo sabe da crise mundial e das providências que a presidenta Dilma vem tomando para evitar que a crise impacte duramente o Brasil. Apesar de todas as providências de rigor fiscal, no início do ano ela autorizou a execução do orçamento de 2011. Não contingenciou e liberou o financeiro. Nós executamos todo o orçamento aprovado ano passado. Depois, ela pediu uma suplementação ao Congresso Nacional, que foi aprovada. Foram R$ 400 milhões, e já estamos em pleno vapor. Então, vamos aproximadamente para R$ 930 milhões. Se não executarmos tudo, terá sido porque faltou área que preencha os requisitos que o governo estabeleceu. Quais são os requisitos? As famílias têm que ter nítida aptidão agrícola, as terras têm que ser agricultáveis, tem que ter disponibilidade hídrica e elétrica, proximidade de infraestrutura de estrada, condições de comercialização da produção, capacidade de desenvolver o assentamento, ato contínuo após assentar as famílias. Além de estar pagando área de desapropriação de R$ 930 milhões – quando o orçamento original era de R$ 530 milhões – a presidenta está publicando agora, já sob esses novos critérios de muito rigor, 66 decretos de desapropriação. E o número de famílias ainda não foi totalizado. Sendo o primeiro ano e com contingenciamento orçamentário, certamente, nós vamos ampliar em 2012. O balanço de 2011 é positivo. Nós vamos continuar a trabalhar para fazer a reforma agrária que o agricultor precisa. Quem precisa de casa e terra para trabalhar deverá ter acesso. Mas mais do que isso: fazer a reforma agrária que o país precisa. O assentado ou assentada tem que desenvolver o assentamento e produzir alimento para ser consumido pelos brasileiros e brasileiras. Tenho convicção de que, além do balanço positivo de 2011, em 2012 nós vamos continuar avançando na política de reforma agrária.
BN - O senhor quer continuar esse trabalho? O senhor quer permanecer ministro do governo Dilma?
AF - Com certeza. É uma grande honra ser ministro deste governo. A presidenta tem tratado o interesse público, o interesse do povo brasileiro, com especial atenção. Merece destaque, na minha opinião, a opção que ela fez de estabelecer como meta do seu governo o combate à pobreza. No meio de uma crise mundial, o lema do governo é “país rico é país sem pobreza”. Podia ser outro lema, porque todo mundo sabe que nenhum Estado nacional tem controle absoluto sobre as variáveis macroeconômicas. Então, é um desafio convocar o país para combater a pobreza extrema em um contexto de crise mundial. Mesmo assim, ela estabeleceu isso. Lançou o Brasil Sem Miséria no início do ano, o Plano Safra, a política de reforma agrária. Agora, no final do ano, a Rede Brasil Rural, a RBR, através da qual vamos fazer compras e vendas coletivas da agricultura familiar, trazendo rentabilidade, baixando o preço e melhorando a qualidade de alimentos para o consumo nacional. Nós temos um ambiente de superação da crise pelo país. A presidenta lançou uma série de programas de microcrédito, de apoio à indústria, de ampliação da oferta de vagas do ensino superior, de melhoria dos valores do Bolsa Família – saindo de R$ 96 para R$ 120, de três benefícios por família para cinco, com crianças e adolescentes até 15 anos. São 1,3 milhão novos benefícios lançados no Bolsa Família. Instrumentos de política pública para o país continuar a crescer, com distribuição de renda. Um país que, crescendo, precisa de alimento. E quem produz alimento é a agricultura familiar. Então, estar à frente do MDA é estar à frente de um dos mais importantes ministérios da República em um governo que, já no seu primeiro ano, está mostrando que aquilo que era difícil se pensar, não só continua como aprofunda o caráter social de desenvolvimento implantado nos últimos anos. Estar à frente do ministério é uma grande honra. Pretendo continuar. Não tenho dúvidas de que, juntos, todos os brasileiros e brasileiras da agricultura familiar, à frente do MDA, sob a liderança, vamos fazer muito nos próximos anos pelo nosso país.

BN - Tem uma bolsa de apostas, em nível nacional, sobre a reforma ministerial que a presidente da República promoveria em janeiro. Inclusive, é tido como certo que o ministro Afonso Florence não continua no cargo. Isso é o que se fala nacionalmente. Qual é a sua expectativa sobre a reforma? O senhor acredita, também falando em bolsa de apostas, que tem quantos por cento de chances de ficar?
AF - Eu não estava presente fisicamente porque estava no ato de balanço do Brasil Sem Miséria e de assinatura dos compromissos dos governos estaduais do Centro-Oeste com o governo federal, mas, pelo que eu acompanhei no noticiário, a presidenta disse que não haverá reforma ministerial. É natural que sejam feitas projeções, prospecções e, eventualmente, especulações. Pelo que eu convivi com a presidenta o ano todo e pelo que estou acompanhando de fim de ano, eu aposto minhas fichas todas que o ano de 2012 reserva ainda mais responsabilidades para o MDA e para mim. É óbvio que eu faço política – sou deputado licenciado – a presidenta faz política, os partidos fazem política... Nós estamos preparados para todas as circunstâncias, em especial para aquela que será a que vai se concretizar, não tenho dúvida disso. Que é a de que as nossas responsabilidades à frente do ministério só crescerão. Eu não gosto muito de apostar, mas nesse caso eu apostaria tranquilamente.
(Risos)
BN - O senhor vota em Salvador?
AF - Meu título é de Salvador.
BN - E qual é sua expectativa para a sucessão em 2012?
AF - Eu participei ontem do encontro do PT, era delegado. Foi um encontro em que, no ato aberto, contou com lideranças de uma dezena de partidos. Alguns dos maiores partidos do estado e do país estavam ali, presentes. Acho que a antecipação da definição do nome do PT é uma responsabilidade que o PT cumpre com a sociedade soteropolitana porque cria um ambiente favorável a discutir com os atores econômicos e sociais e com os partidos um programa para a cidade que, resumidamente, permita trazer para Salvador a experiência de governo que o ex-presidente Lula, a presidenta Dilma e governador Jaques Wagner vêm colocando em prática no governo federal e no governo estadual. Pelegrino é um ativista do PT inteiramente preparado para liderar, com a orientação do nosso partido, de planos nacional e estadual, da presidenta e do governador, a construção de uma coligação e de um programa que permita à nossa cidade aproveitar as oportunidades que estão desenhadas para um futuro próximo e superar os gargalos, alguns deles já históricos e constrangedores da vida na cidade. A cidade vai melhorar muito a capacidade de ser generosa com o seu povo e seus visitantes resolvendo os problemas de coleta e tratamento de esgoto, de produção e distribuição de água, de habitação popular – particularmente para a população de mais baixa renda, viários e de transporte público. Sem dúvida, Pelegrino e o PT têm condições de, obviamente respeitando todas as candidaturas postas, liderar a construção de uma coligação com um programa de governo que dê consistência. Apresentar para a cidade um rumo, com providências a serem tomadas. Acho que o PT tem condições de ganhar as eleições e espero que nós consigamos corresponder a essas expectativas que a população de Salvador tem de mudanças. E não basta mudar para melhor; tem que mudar para muito melhor. Essa expectativa é muito positiva e muito generalizada. Não tenho dúvida que a experiência, a liderança de Pelegrino â frente de uma coligação, vai permitir a gente chegar à vitoria e governar Salvador respeitando as diferenças de uma cidade muito diversa, muito plural. Tenho convicção que foi uma medida acertada antecipar essa definição do candidato do PT. Eu estou muito esperançoso de que vai dar tudo certo.

BN - Como dirigente partidário, o senhor defende Pelegrino em 2012 e Pinheiro em 2014?
AF - Acho que nós temos que concluir o processo de 2012. No momento oportuno, sob a liderança maior do governador Jaques Wagner, o PT deve abrir o debate em 2013. E o governador, pelo jeito muito companheiro de conduzir o processo – inclusive abrindo uma fila dentro do PT –, tem a prerrogativa de abrir o processo eleitoral. Quem deve abrir a discussão sobre sucessão é o PT. E no PT a liderança do governador deve ser considerada. Nessas condições, então, eu me pronunciarei. Mas não tenho dúvida de que o governador ganhou um crédito com o estado da Bahia, com o povo baiano, a ponto de liderar não só a sucessão no PT, mas na Bahia. O que o governador fez nesses seis anos até agora – e certamente vai concluir essa obra com o segundo mandato – é algo inédito na Bahia. Um modo de governar realmente novo. Mesmo quem está na oposição é tratado com respeito, com deferência. É só mapear os municípios, Mesmo os municípios governados por prefeitos de oposição receberam os investimentos de saneamento, de habitação, de saúde. Foi o governador Jaques Wagner que começou o repasse fundo a fundo no Fundo Estadual de Saúde. Isso só começou recentemente, embora todos os estados já faziam isso há muito tempo e a Constituição de 88 determinasse isso. E faz isso tudo com muita nitidez de um projeto para o futuro, para muitas décadas. Ele abriu um processo de desenvolvimento que vai consolidar a presença da Bahia no cenário nacional. Com democracia e transparência. Isso deu credenciais e ele, não apenas no PT, como na sociedade baiana. Eu vou seguir essa lógica. Eu acho que isso é o legítimo. Depois de 2012, em um momento oportuno lá em 2013, o processo será aberto no interior do PT. Com a liderança do governador tendo destaque merecido. E aí vamos discutir o programa político e os melhores nomes posicionados. Eu vou estar à disposição para apoiar o candidato do meu partido e da coligação. Na situação em que estou, como ministro indicado pelo governador e pelo partido, eu preciso ter uma posição de tratamento equânime com os postulantes. Quem postula tem o direito de postular. E há muitos que ainda não postulam e eventualmente poderão postular lá na frente. Acho que o importante é termos a unidade do PT e dos partidos que defendem esse projeto. E agora em 2012 vai acontecer isso. Não necessariamente terá que ser sempre candidato do PT. No Piauí, aconteceu isso. O ex-governador apoiou um candidato do PSB. Acho que esse é um momento de crescimento do PT. Assim como em Salvador em 2012, muito provavelmente o PT estará em condições de liderar uma coligação eleitoral em 2014. Mas ainda tem que passar 2012, chegar 2013...
BN - O senhor falou que o governador abriu uma fila no PT. Afonso Florence está nessa fila?
AF - Mas é óbvio. Ele já me indicou para ser ministro. Me colocou em uma fila que eu próprio fui surpreendido. Sou muito grato pelo reconhecimento dele. Eu próprio sou prova disso: de que, como ele mesmo diz, não se trata de comparar pessoas; são as circunstâncias. Obviamente, nós temos muitos nomes gabaritados e preparados, seja na coligação ou no PT, para disputar em 2012 a prefeitura de Salvador. Mas o nome melhor posicionado nesse momento é o de Nelson. Eu já estou ministro. Para dizer a verdade, eu já tinha me realizado em eleger Lula. Depois, me realizei elegendo Wagner em 2006. Tive a experiência de ser secretário de Desenvolvimento Urbano, depois ser candidato a deputado federal. Grosso modo, eu estou realizado. E aí aparece a oportunidade de ser ministro. Ele [Wagner] organizou a fila e sugeriu o meu nome para a presidenta. Eu próprio sou prova de que organizou uma fila e foi trabalhando de acordo com a conveniência e com a oportunidade. Pelas condições internas da história do PT, surgiu uma oportunidade. Havia a expectativa de que no MDA houvesse um militante do PT de uma determinada posição interna do partido. Eu entrei na fila e ele já me botou na frente.
Fonte: Bahia notícias

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