terça-feira, 25 de setembro de 2012

Luis Beatón: Os difíceis caminhos para alcançar a paz na Síria





Em plena guerra civil, sírios buscam caminhos para a paz. Foto: agências
Em plena guerra civil, sírios buscam caminhos para a paz. Foto: agências
Uma Conferência Nacional de Resgate da Síria se desenvolveu em Damasco com a participação de 20 partidos e um espectro político composto por forças da oposição local.
Os participantes na reunião, que teve lugar no Hotel Omeya, debateram sobre os caminhos para resgatar o país dos perigos que enfrenta, segundo os organizadores.
Durante o evento, falou o embaixador da Rússia na Síria, Azamat Kulmukhametov, que ressaltou a necessidade de encontrar uma solução pacífica para a crise pelos próprios sírios, sem intervenção externa, que inclua o fim do financiamento, armamento e concessão de refúgio aos grupos armados com participação mercenária.
O diplomata russo sublinhou a necessidade de pôr fim imediato à violência como passo essencial para o início de um diálogo sem condições pré-estabelecidas. Esta, disse, é "a única via para sair da atual crise, cuja continuação não pressagia nada de bom nem para a Síria nem para a região em seu conjunto".
Isso resume em poucas palavras os caminhos que o povo sírio enfrenta para alcançar a paz, um processo difícil que o Ocidente e alguns aliados regionais veem a partir de sua ótica, a qual condiciona o processo à saída do presidente Bashar al-Assad do governo.
As propostas ocidentais recordam a experiência do autor na década de 1980 nas Nações Unidas, onde muitos diplomatas quando se enfrentavam com um assunto de difícil negociação diziam que "o caminho para o inferno está cheio de boas intenciones".
Segundo uma análise da publicação National Journal, diplomatas estadunidenses e outros ocidentais estão preocupados com que quanto mais tempo o presidente Assad siga no governo, mais possibilidades há de que a situação na Síria esteja dominada por elementos islamistas, ou melhor, extremistas.
Aqui já há uma condicionante, Bashar; para o Ocidente, este deve sair do poder e se recorre ao temor do que representaria um triunfo de tendências que eles mesmos apoiam a partir do exterior.
Supostamente poderia surgir "um arco de novo poder de grupos radicais islâmicos ao longo da metade sul do Mediterrâneo desde a Líbia até a Síria", e isso não está afastado da verdade. O Ocidente, como diz o refrão, cria corvos que podem arrancar os seus olhos.
O informe elaborado pela publicação citada indica que os acontecimentos na Síria podem ter um "impacto na eleição presidencial dos Estados Unidos", pois o candidato republicano Mitt Romney crê ter encontrado um filão para ganhar pontos no enfrentamento com o presidente Barack Obama.
"Passou mais de um ano desde que o presidente disse que Bashar al-Assad deve ir-se", declarou Dan Senor, um alto assessor de Romney em política externa, à rede CBS.
Segundo ele, Romney faria mais para ajudar o movimento de oposição local na Síria, trabalhando com nossos aliados como os turcos, os sauditas, para criar uma oposição mais organizada, com "mais recursos, mais armas".
A mensagem do assessor de Romney pretende que os opositores sírios "têm chamado a uma liderança estadunidense desde há muito tempo" nesta crise, o que analistas consideram uma posição simplista e que pode levar Washington a uma situação difícil, uma espécie de pântano.
A Casa Branca tem atuado com a cautela que corresponde ao que os Estados Unidos estão passando no Afeganistão e por pouco não passaram no Iraque, e que ao que parece tem sido um chamado à prudência para o atual mandatário.
A Washington a única coisa que falta é pôr os pés de seus marines na Síria. Os EUA têm proporcionado grande quantidade de recursos que denominam não letais, incluindo equipes de comunicação, de inteligência e diferentes formas de assessoria, sem excluir a utilização de aliados para fins mais obscuros, inclusive a rede Al-Qaida.
Até agora, as gestões da Casa Branca têm sido na direção de incentivar a violência sem uma intervenção direta, e seus posicionamentos têm estado longe de favorecer um diálogo, pretendendo impor aos sírios uma solução feita no exterior.
Durante uma visita à Rússia, Qadri Jamil, vice-primeiro-ministro sírio para Assuntos Econômicos, expressou a disposição de seu governo para discutir a renúncia do presidente Bashar al-Assad.
"Fazer da renúncia em si mesma uma condição para a celebração de um diálogo significa que você nunca será capaz de chegar a este diálogo", indicou.
Mas acrescentou: "Todos os problemas podem ser discutidos durante as negociações, inclusive estamos dispostos a discutir este tema".
Por outro lado, em declarações em Damasco, o primeiro-ministro Wael al-Halaki disse que há sinais de uma transformação política mundial a respeito do que ocorre no país, o que poderia ajudar a encontrar uma solução política para a crise e a convocar o diálogo que conduzisse à reconciliação nacional.
Nesse sentido, nas últimas semanas, analistas consideram que a coalizão de fato entre a Turquia, Israel e os "moderados" estados árabes sunitas que durante décadas trabalhou para promover os interesses estadunidenses na região está desintegrando-se, segundo um estudo de World Politics Review.
De imediato, na Síria as forças governamentais incrementam sua ofensiva para cortar os abastecimentos logísticos dos bandos e dia após dia são reiterados os informes de grandes baixas nas fileiras dos grupos oposicionistas armados.
Analistas estimam que se o governo consegue cortar as fontes de abastecimento dos bandos armados e o fluxo de mercenários pela fronteira, dará um passo importante para que avance uma solução política e o diálogo entre os sírios sem imposições externas.
Não obstante, o caminho para alcançar a paz e curar as feridas da guerra será difícil.
- Por Luis Beatón, Correspondente da Prensa Latina na Síria.
Tradução da Redação do Vermelho

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