segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Wagner já fala em nomes para 2014


Publicada: 29/08/2011 03:23| Atualizada: 28/08/2011 22:12

Osvaldo Lyra-EDITOR DE POLÍTICA

Defensor da complementaridade de modais de transporte na capital baiana, o governador Jaques Wagner (PT) ratifica seu posicionamento nesta entrevista à Tribuna.

Segundo o chefe do Executivo estadual, não há possibilidades de se voltar atrás na disputa de modais para a Avenida Paralela, sendo “o metrô o mais moderno e mais eficiente”. Nesta conversa, ele ignora as possíveis pressões em relação à escolha pelo BRT, deixando claro que “essa discussão já está ultrapassada”. Ao falar sobre o projeto de lei do Planserv, a ser votado na Assembleia Legislativa, o governador critica “aqueles que querem confundir” e esclarece que o objetivo é promover o uso racional do plano.

Em relação às eleições municipais de 2012, Wagner volta a pregar a unidade de sua base. Apesar de ser cotado como um dos nomes para sucessão presidencial em 2014, ele admite com exclusividade que seu plano é a candidatura para Câmara Federal. Já sobre o governo estadual, sinaliza que o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, pode ser um dos nomes, mas cita ainda outros como o prefeito Luiz Caetano, o senador Walter Pinheiro e a prefeita Moema Gramacho.

Tribuna da Bahia – A decisão sobre o tipo de modal a ser implantado em Salvador já foi tomada. Há possibilidade de o governo desistir de colocar metrô na Avenida Paralela?
Jaques Wagner -
Não. A minha opinião é não porque o metrô foi escolhido por questões técnicas. Eu insisto que uma coisa é quando se faz uma opção política, outra coisa é quando se faz uma opção técnica daquilo que se considera mais eficiente para a cidade. Você não acha estranho que alguém ainda ache que um modal de ônibus para uma linha troncal como a Avenida Paralela possa ser melhor do que um modal de metrô? Todo mundo quer um modal mais moderno que possa carregar mais passageiros. Então, eu insisto que essa decisão foi tomada não contra ou a favor de ninguém, mas sim tecnicamente a favor da cidade por aquilo que é mais moderno, mais eficaz, mais eficiente.

Tribuna - Haverá dinheiro e tempo hábil para executar o projeto já que tudo parece tão frágil?
Wagner -
Não é frágil. Uma planilha foi apresentada, tem os detalhes e preços estipulados lá. Agora eu estou preparando o edital de licitação para licitar e para depois desse processo, aí sim, ou melhor, durante a licitação fazermos especificações. Isso vale para todos os projetos que forem apresentados e o bom projeto é que faz o dinheiro. Eu tenho certeza que a gente vai conseguir o dinheiro porque Salvador merece.

Tribuna - Como o senhor observa essa pressão empresarial?
Wagner -
Eu não entendo qual é a pressão deles. Ninguém está dizendo que vai retirar linha de ônibus da rua. O negócio deles está preservado. Agora, se eles tinham pretensão de ampliar o negócio isso é meritório, mas se não ganharam é assim a vida. Todos estes ônibus que você está vendo passar vão continuar funcionando, portanto, o negócio de transporte rodoviário vai continuar existindo. Eu cito o caso de Londres, onde existe um dos metrôs de melhor distribuição e 60% da população, além de usar o metrô, usa ônibus. Eu não entendo o que está acontecendo na cabeça dessas pessoas. Elas precisam viajar, conhecer outros lugares que, de fato, exista, um sistema de transporte eficiente. Só se tem BRT quando a cidade não conseguiu chegar ao metrô. Curitiba tem BRT e está fazendo metrô, o Rio de Janeiro tem metrô e está fazendo BRT. Que me perdoe quem quer confundir e não esclarecer.

Tribuna - Existem R$570 milhões programados para o BRT.
Wagner -
Não. Não está programado para o BRT. E não é verdade isso de projeto de R$600 milhões. O projeto deles está lá. É só você pegar o projeto deles que custa R$ 2 bilhões e tanto. Que projeto de 600 milhões? Não existe isso.

Tribuna - E o que eles queriam doar?
Wagner -
Se queriam doar já deveriam ter doado. A cidade está pobre, precisando de dinheiro. Acho que eles apresentaram um projeto que não tinha nada de doação. Aí, depois que perdem, dizem que vão doar. Primeiro que não existe projeto de BRT de R$600 milhões. A pergunta que eu faço é a seguinte: O que fazer com a linha 1 do metrô que é um trauma para a cidade? Eu acho que essa discussão está ultrapassada.

Tribuna - E a Câmara de Vereadores nesse processo? Politicamente, se percebeu um tensionamento e os vereadores afirmaram que se sentiram desprestigiados da decisão. Alguns chegaram a afirmar que foram excluídos do processo.
Wagner –
Não. Não foram excluídos. Isso não é verdade.

Tribuna - O prefeito João Henrique se colocou à disposição para tentar intermediar.
Wagner -
O prefeito é o prefeito da cidade, então ele não precisa intermediar nada. Ele é prefeito da cidade, então ele conversa com os vereadores. Eu não tenho problema de conversar até porque eu sou um democrata convicto e converso com todo mundo.

Tribuna - Diante do tensionamento...
Wagner -
Não tem tensionamento. Qual o tensionamento?

Tribuna - Parte dos vereadores estava completamente revoltada e, inclusive, ameaçando colocar na Justiça para tentar impugnar o processo.
Wagner -
Podem colocar na Justiça. Estão equivocados, pois não cabe Justiça no PMI.

Tribuna - Não seria o caso de o senhor, politicamente, tentar trazê-los para perto das discussões?
Wagner -
Eu não tenho nenhum problema de dialogar. Agora, eu quero só pôr as coisas no seu devido lugar. Esta PMI foi elogiada por órgãos de controle por ter sido feita aberta na internet, no Ministério Público, com os membros do Seteps participando. Teve mais de 12 mil acessos. Quando teve a escolha do metrô linha 1, teve essa discussão toda? Não, não é? Então é bom que se pergunte a alguém o que está acontecendo.

Tribuna - O governo errou ao enviar o projeto de alterações no Planserv sem discutir antes com os deputados e com os servidores do Estado?
Wagner -
Não. Primeiro que o impacto é muitíssimo pequeno quando houver. Eu não estou mudando nada do ponto de vista de aumento da coisa. O que estou fazendo é um fator moderador daquele que é o maior plano de saúde do Norte e Nordeste e um dos últimos, se não for o último, plano de saúde pública porque a maioria das prefeituras, e mesmo os governos, acaba passando para um plano da iniciativa privada, onde o servidor paga e o governo dá a sua parte como empregador e alguém vai gerir o plano. É preciso que as pessoas atentem para isso. Eu recebi esse plano falido, talvez até porque quisessem acabar com o plano, mas não posso confirmar se era isso. O plano terminava o dinheiro em setembro e as clínicas ficavam quatro meses às vezes sem receber. Hoje, o Planserv tem gente na fila querendo se credenciar. E há um reconhecimento - que nessa hora é preciso vir à tona - dos servidores de que esse plano melhorou, e muito, de 2007 pra cá. Agora, se eu estou fazendo um plano melhor para todo mundo, eu também tenho que ter um controle melhor para que ele não saia do caminho. Primeiro que é mentira o que alguns estão dizendo que eu estou limitando, mas essa é uma tentativa de preservar o plano porque o plano custa por ano ao Estado R$250 milhões. É preciso que as pessoas saibam disso. O governo coloca R$250 milhões por ano para fechar a conta, óbvio que os trabalhadores contribuem como todo mundo contribui, mas o que estou dizendo é que a partir de determinado número, que está em discussão na Assembleia, os usuários vão passar a contribuir. Óbvio que vai estar externado emergência que ninguém prevê emergência. Óbvio também que não estou falando de doença crônica. Estou tentando fazer isso para que não haja de quem quer que seja um mau uso, ou um uso em abundância do plano. Lógico que se você fez uma consulta hoje e precisa de exame você terá todo direito. O que estou querendo é modular para melhorar o plano porque não tenho interesse de colocar nenhum dinheiro no orçamento do Estado de volta, mas, pelo contrário, quero é manter esses R$250 milhões. Porém, se o gasto for mais inteligente, mais eficiente, eu vou poder estender mais e eventualmente agregar. Eu estou querendo ampliar para o interior, mas tenho um limite de gasto. Se eu puder ter um uso mais racional... Então repare esse exemplo: eu era empregado de empresa e tinha um plano de saúde que a empresa pagava uma parte e eu outra. Quando ia usar o plano, tinha um percentual que eu usava até para eu ser controlador. Pessoalmente, teve um caso comigo que lançaram uma conta na minha folha que eu não tinha usado, então eu fui até a empresa e mostrei que era mentira e o dinheiro foi devolvido. O que aconteceu foi que eu acabei virando fiscal do plano para o próprio bem do plano. Agora, se o cara diz não é comigo não, então alguém pode estar lançando. Não estou dizendo que está lançando, mas dizendo que essa é uma forma do maior interessado, nesse caso o usuário, poder fazer para que o plano continue assim e melhore, que é sendo fiscal. É ele se sentir na obrigação de acompanhar. Você acha justo que alguém que ganha R$ 10 mil pague o mesmo de quem ganha R$3 mil? Não é justo gente. Eu vou repetir que quando nós entramos, ninguém queria o Planserv. Era só reclamação porque as clínicas não recebiam e, consequentemente, não atendiam. Isso era pra quebrar o plano. Nós resgatamos o Planserv, que hoje paga em dia e é respeitado. Agora, eu quero racionalizá-lo e não estamos fazendo nenhum absurdo. Quem adora confundir ao invés de discutir fica querendo colocar venda nos olhos dos outros.

Tribuna - O senhor acredita que sua base aliada chegando com vários candidatos ano que vem poderá se prejudicar?
Wagner -
Eu sou governador de uma coligação, não sou governador do PT, e por isso vou buscar uma unidade. Óbvio que tenho compromisso com o meu partido, mas tenho também compromisso com todos os partidos que contribuem para mim. Eu já pedi no conselho político que buscássemos a unidade o máximo possível, não só na capital, como nas cidades pequenas do interior, mas eu não quero impor. Eu sempre trabalho com o convencimento e não com a imposição. As pessoas estão colocando as suas campanhas na rua e isso é bom porque mostra a pujança do grupo, mostra que temos várias opções e vamos afunilando à medida que a data for chegando. A oposição já escolheu o seu candidato único?

Tribuna – E se a oposição chegar unida, pode atrapalhar?
Wagner –
Não. Pelo contrário, pode ajudar. Porque, se ela chega unida de lá, o pessoal vai querer se unir de cá, então pode até ajudar.

Tribuna - O crescimento exagerado de sua base é saudável?
Wagner -
Não tem base exagerada. Crescimento nunca é exagerado, a não ser quando é peso.

Tribuna - A falta de oposição não prejudica?
Wagner -
Não tem falta de oposição. Existe na oposição o PMDB, o DEM, o PSDB e o PR, que também não está na minha base. Só aí eu citei quatro partidos grandes que são de oposição. Se esses partidos não têm muitos deputados, muitos prefeitos, aí é outro problema. Mas estou citando aqui quatro partidos de importância nacional. Agora, óbvio que as pessoas estão vendo o trabalho que estamos fazendo e querem ficar próximas do governo, querem estar dentro desse projeto, então estamos crescendo. É obvio que todo crescimento traz problema para dentro de casa porque eu não posso crescer o orçamento, não posso crescer os cargos como eu queira porque tenho que controlar e aí, portanto, você vai dividir em dez o mesmo bolo para mais pessoas, mas elas tem compreensão que isso é bom para todo mundo.

Tribuna - E sobre a sucessão presidencial, seu nome está mesmo no páreo?
Wagner -
Em 2014, eu deverei ser candidato a deputado federal para ajudar o nosso grupo a fazer uma bancada grande e para ajudar nos acordos da chapa majoritária. É óbvio que se eu quiser ser senador eu sei que tenho legitimidade e que é normal essa visão, mas como estou mais preocupado com a manutenção dessa unidade que nós conseguimos, então prefiro ser candidato a deputado federal. Você deve estar se referindo ao que eu falei em uma entrevista, mas foi uma mera pergunta, até mesmo porque você nunca diz que não tem apetite político.

Tribuna - O senhor é o principal governador do PT. Não seria a hora de buscar voos mais altos?
Wagner -
Mas meu objetivo é Dilma na reeleição. Esse é meu trabalho.

Tribuna - Como observa o ensaio de José Sérgio Gabrielli para o governo do Estado?
Wagner -
Ele é um nome que está sendo colocado, mas ainda não se formalizou porque está muito cedo. A hora de se pensar em 2014 é depois das eleições municipais, em 2013. Agora ele é um nome que é respeitado na Bahia e nacionalmente, como (Walter) Pinheiro é; como (Luiz) Caetano é; como Moema (Gramacho) é. Eu não vou antecipar esse processo.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lílian Machado.

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