segunda-feira, 14 de maio de 2012

Celebração das Culturas dos Sertões marca um novo olhar sobre a Caatinga













Ariano Suassuna foi um dos destaques do evento sobre a Cultura dos Sertões. Foto: internetA Celebração das Culturas dos Sertões teve como evento de abertura realizado no sábado (5 de maio) , no Teatro Castro Alves (TCA), em Salvador, o show Engana-se. O primeiro dia da programação em Feira de Santana também foi marcado pela música, pela beleza e cultivou ainda mais a tradição das culturas dos sertões.





O ofício do vaqueiro – nosso personagem quixotesco, segundo Ariano Suassuna – foi oficialmente reconhecido pelo Governo do Estado como Patrimônio Cultural Imaterial. Já o mestre do movimento Armorial, Ariano Suassuna, em aula-espetáculo no Centro de Culturas Amélio Amorin (CCAAm), mostrou através de sua irreverência e bom humor, para um teatro lotado, a importância do sertão para a cultura brasileira. Ariano atraiu uma platéia de todas as idades e conquistou ainda mais admiradores com a sua performance transmitida “ao vivo” pelo site da TVE. “O Nordeste é o coração, osso e nervo do Brasil. E o sertão é o coração, osso e nervo do Nordeste”, pontuou Suassuna, ao valorizar a cultura sertaneja.







A irreverência de Ariano Suassuna





Com muito bom humor e em meio a muitos causos em que o sertanejo era sempre o protagonista, o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna proferiu na noite do domingo (6 de maioi), sua aula-espetáculo, principal atividade do primeiro da programação da Celebração da Cultura dos Sertões. O evento é promovido pela Secretaria de Cultura da Bahia, com o apoio de várias secretarias municipais.





O espaço físico do teatro do Centro de Cultura Amélio Amorim ficou pequeno diante da multidão ávida por ouvir atentamente umas das principais referências intelectuais na defesa da cultura dos sertões. A obra de Ariano Suassuna é toda marcada pela riqueza das personagens e as muitas histórias que povoam o universo e o imaginário sertanejos. Na plateia, gente de todas as idades, muito riso e satisfação com a fala do escritor.





Irreverente, Ariano contou muitos causos, da infância em Taperoá, na Paraíba, e das muitas histórias como ícone da literatura que foca os sertões. Apaixonado, partiu em defesa do povo brasileiro. Ariano Suassuna falou de futebol, moda, sobre música e literatura, entre outros assuntos. Ele destacou a importância das obras que têm como pano de fundo a fortaleza do sertanejo. “Este é um momento muito importante para mim, como sertanejo que sou. Não existe arte universal, todas as grandes obras que conheço são obras locais universalizadas pela qualidade e pela quantidade de sonho humano que existe ali. Então quando se dá importância a essa cultura feita pelo povo brasileiro, quando eu ou músicos como Elomar e Fábio Paes dão importância, é porque nós sabemos que essa cultura produz em vários momentos obras da maior importância”.





Exposição e artesanato





O público que compareceu durante todo o dia ao Centro de Cultura Amélio Amorim pode apreciar ainda belas fotografias na exposição “Imagens dos Vaqueiros da Bahia” e desfrutar da Feira de Artesanato “Saberes e Sabores dos Sertões”. A criançada se divertiu com o espetáculo de teatro de rua “Êh, Boi”, do grupo mineiro Kabana e interagiu com o reisado de São Vicente.





As apresentações musicais também deram o tom da festa. Com curadoria e coordenação do grande mestre e cordelista Bule Bule, o Encontro de Repentistas reuniu cantadores, violeiros, sanfoneiros e grupos de samba rural, transformando a área externa do CCAAm em um grande arrasta-pé.





A Celebração das Culturas dos Sertões contou também em Feira de Santana, nesta segunda-feira (7), com a abertura do I Encontro de Estudos das Culturas dos Sertões, reunindo pesquisadores para debater os modos de vida e identidades dos povos sertanejos. O cinema também entra na programação, com a sessão do Circuito Popular de Cinema e Vídeo, que projetará o longa-metragem “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, do baiano Glauber Rocha. À noite, a animação fica por conta das atrações musicais Maviael Melo e do grupo Sertanília. Houve também debates sobre o cangaço e a Guerra de Canudos dentre outros temas além de lançamentos de livros.





Livros, música e vídeos





A Celebração das Culturas dos Sertões teve em sua programação, um espaço dedicado às letras, à música e vídeos. Na terça-feira (08), ocorreu no Centro Cultural Amélio Amorim, o lançamento de livros, CDs e DVDvs, com a presença dos autores e artistas em uma sessão de autógrafos. Dentre os convidados estão Vera Ferreira, neta de Lampião, e o repentista e escritor Bule Bule e o escritor e jornalista Domingos Ailton.





Dentre as obras, as histórias de Canudos e seus personagens marcam presença, a exemplo do livro “Bonita Maria do Capitão”, de Vera Ferreira e Germana Gonçalves de Araújo. A publicação passeia pela biografia de Maria Bonita e também apresenta uma composição de obras de artistas que a retrataram em variadas formas de expressão, como xilogravura, teatro, cinema. Outra personagem do Cangaço também tem espaço entre os livros. A cangaceira Anésia Cauaçu protagoniza o romance histórico homônimo do jornalista jequieense Domingos Ailton, que conta a história da primeira mulher do sertão de Jequié a entrar no Cangaço.





Diversas expressões





A musicalidade dos sertões também estará presente na sessão de autógrafos, como, por exemplo, a obra “Apelos e Canções”, do escritor e poeta feirense Asa Filho, que, em livro e cd, proporciona um registro das memórias musicais do artista, com poesias cantadas e comentadas, com ilustrações de artistas da região. O repentista e músico Bule Bule traz a junção da literatura sertaneja com a produção musical. O artista, conhecido pelos seus versos de cordel, apresenta o CD e DVD “Cordelizando a Canção”, deste ano.





Com muita variedade, autores e artistas são esperados para a sessão de autógrafos, que juntará diversas expressões e histórias dos sertões nas produções culturais e artísticas. A sessão faz parte da Celebração das Culturas dos Sertões que aconteceu entre os dias 5 e 9 de maio, no Centro Cultural Amélio Amorim, em Feira de Santana.





- Por Domingos Ailton – escritor, professor e jornalista

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